Faltava coragem pra viajar e se divertir sozinha? Não falta mais!
Guilherme Renso
E que comece o campeonato mundial de respostas prontas a uma mulher que enche o peito e afirma, em uma roda de amigos, "vou viajar sozinha". Mas e o medo da violência, minha filha?, questiona a avó. Seu namorado ou namorada deixa?, pergunta a prima distante, contrastando, entre os dedos nas redes sociais e as palavras, do tempo do Guaraná com rolha. Vai sozinha mesmo, com a cara e a coragem?, indaga a colega de trabalho se roendo de inveja, mas que, no fundo, nunca o fez por viver em um conflito entre ter vontade e considerar isso um absurdo, afinal, como fica o tal medo alimentado pelos humanos?
A resposta para todas essas perguntas vem de alguém que pouco a pouco via a sua coragem crescendo e ficando infinitamente maior que tais opiniões limitadoras. Como diz ela, a Tainá Pereira, do Rio de Janeiro, sonhos de conhecer lugares não foram feitos para serem deixamos no fundo do pote, enquanto as outras pessoas nunca arrumam tempo para lhe fazer companhia. Se der vontade, simplesmente vá. Se der medo, vá com ele mesmo e leve-o para conhecer o mundo. A diversão é certa.
"A primeira single trip foi em 2015, do Rio pra São Paulo, em um Festival de Música Eletrônica. Fiquei só três dias, mas deu tempo de conhecer o Parque do Ibirapuera e a Avenida Paulista. Depois eu tomei gosto pela coisa e me preparei para o primeiro mochilão. Foram 11 dias em Minas. Passei por, entre outros lugares, o Parque Estadual de Ibitipoca. Lá eu fiz a minha primeira trilha sem companhia. Opa, desacompanhada não. #euminhamochilaeminhasbotas, além das pessoas divertidas que conhecia por onde passava", conta Tainá, que estava com 24 anos na época do Festival em Sampa.
Já no carnaval de 2017, a folia deu lugar à peregrinação espiritual, no chamado Caminho da Fé, o tupiniquim, que abrange 34 municípios entre os estados de São Paulo e Minas Gerais. Conforme ela relatou ao Mochilaí, a possibilidade de ampliar o autoconhecimento foi um dos fatores que a fez percorrer, em pouco mais de uma semana, 215 quilômetros.
"Dos noves dias, sete foram arrastados, em razão do meu joelho. Ao passar pelas cidades, as pessoas perguntavam se eu era a menina que estava com o joelho estourado. Ou seja, os outros peregrinos informavam os locais. Nos últimos quilômetros, já era possível ver claramente o Santuário de Aparecida. Naquele momento, um sentimento forte me fez andar muito rápido, como nunca havia feito antes na vida. Era um misto de querer chegar com o desejo de ter a certeza que realmente eu estava fazendo aquilo. Já na escada de acesso à Basílica, eu ouvi de uma mulher 'bem-vinda, peregrina'. Aquilo foi dito com tal força que eu comecei a chorar e tudo, dali em diante na Basílica, me emocionava", relata Tainá.
E pra quem ainda está em dúvida sobre viajar sozinha, a carioca, que criou a #euminhamochilaeminhasbotas, dá algumas dicas: estudar o destino bastante antes de iniciar a viagem, montar um planejamento, deixar uma cópia desse roteiro com uma ou duas pessoas e, principalmente, se desprender de velhas desculpas que, literalmente, não farão você sair do lugar. "A gente deixa de viver muitas coisas por ficar dependendo de pessoas para fazer conosco. E sobre a violência, ela pode acontecer na esquina de casa. Isso não pode ser motivo para brecar a sua felicidade", finaliza.