Intercâmbio na Irlanda: a vida real de quem venceu por lá

Guilherme Renso

A nossa ideia com a pauta sobre intercâmbio em Dublin, na Irlanda, era apontar os principais motivos que têm levado cada vez mais brasileiros aquele país. Uma nova vida, a cultura, novos hábitos, a possibilidade de contato com pessoas de diferentes partes do mundo e por aí vai. No entanto, na busca por um entrevistado que validasse isso, nós fomos apresentados ao paulista Tiago Oliveira, que desembarcou por lá, junto com a sua esposa, para um período inicial de oito meses. Detalhe: já se passaram dois anos.

Uau. Então a vida lá é fácil, tranquila e todo mundo consegue emprego logo de cara, certo? Não. Errado. Algumas informações que você vai ler a seguir podem ecoar como um balde de água fria, mas acredite, não são. É a mais pura verdade que, por ser um retrato fiel, feito por quem foi de lavador de panela (sem desmerecer tal função) a emprego na área que atuava no Brasil, evitará que você crie falsas expectativas e ilusões de um mundo perfeito, antes mesmo de chegar lá.

A primeira falácia disseminada é que o estudante mal desembarca e já consegue um emprego. Na realidade, não é bem assim. Segundo Tiago nos conta, só com um fiofó virado muito pra lua que o intercambista conquista algo em menos de três ou quatro meses vivendo naquele país. E algo, entende-se aqui, é na pia da cozinha de restaurantes ou outras funções parecidas. Ou seja: paciência, paciência, mais paciência e é proibido desanimar, ou melhor, don´t discourage.

Falando em inglês, o seu nível de fluência nessa língua é um dos fatores que pesa na hora de encurtar ou estender a perspectiva da primeira oportunidade profissional. “Eu imaginava que falava alguma coisa quando eu e minha esposa chegamos aqui, mas, na prática do cotidiano, descobri que não era bem assim. Depois de certo tempo estudando, arrumei um emprego para lavar panela e, posteriormente, comecei a aplicar currículo para vagas de emprego na área. Hoje eu trabalho no que é a maior obra da Irlanda: uma expansão do sistema ferroviário, de bonde de rua, o Tram”, conta Tiago.  

Mas se o dinheiro, nesse primeiro momento só vai sair, não vai entrar, quanto você deve levar? A resposta para essa pergunta passa por outra: o tempo previsto de estadia. Para quem for ficar o período máximo do visto liberado pelo país, ou seja, os oito meses, Tiago indica não sair do Brasil com pelo menos € 5.000, dois mil a mais que o governo exige, mais os € 1.600 necessários para uma bem provável renovação do visto, sem contar a verba das passagens.   

Tudo isso? Sim. Os gastos não são poucos e lembre-se, o emprego pode demorar um pouco. Para dividir um quarto com outros dois ou três estudantes, o valor é de aproximadamente € 400,00, por mês. Isso depois que você ficar até o limite de 30 dias na acomodação da escola, ao custo de € 150,00, enquanto procura um local para se instalar. Se quiser ser o diferentão e ter mais privacidade, uma acomodação individual sai entre € 550,00 e 700,00 euros, sem contar outros custos, como alimentação.   

Lavar panela, contar as moedinhas, dificuldade com o idioma, clima instável e ainda ganhar menos do que recebia no Brasil Vale o desafio? Sair da zona de conforto sempre vale. “Não me arrependo de nada. Tudo contribuiu para um processo de amadurecimento pessoal. A gente descobre que tem menos, mas sempre tem. Então quem se programar, consegue fazer as coisas. O que não vale é ficar acomodado ou sem paciência. Aí que não dá certo mesmo”, finaliza Tiago.