Partiu Intercâmbio: De corpo, alma e sem erros

Guilherme Renso

Deixar os amigos, a família, namorado (a) (ou peguete) aqui no Brasil e partir rumo ao ilustre desconhecido em uma viagem de intercâmbio demanda planejamento e investimentos financeiros, o que cá pra nós, em época crise, fica ainda mais complicado. Até aí, tudo está dentro de uma lógica. A área de instabilidade começa a virar uma turbulência maior quando o estudante, pegando uma licença poética ao provérbio, tropeça nas pedras pequenas e não aproveita a viagem como deveria ou, até em alguns casos, precisa voltar ao Brasil antes do tempo previsto.

Pode parecer besteira, mas os dois primeiros tropeços costumam acontecer ainda em solo brasileiro. Um deles ocorre na escolha (ou não escolha) da agência de intercâmbio e, o outro, é o país que acolherá o aluno. No primeiro caso, a dica para desviar da pedra é buscar empresas confiáveis, idóneas e, de preferência, por indicação. Entretanto, pior que escolher errado é não escolher e ir por conta, sem nenhum respaldo. Sobre a agência, todos os dados devem ser levantados. O mesmo precisa ser feito na escolha do país. Comidas típicas, clima, se há religiões predominantes, costumes implicados por esses credos, culturas e hábitos são informações que precisam ser pesadas e levadas em conta para que grandes choques culturais sejam evitados.  



“É imprescindível que, principalmente no caso de alunos menores de idade, a família saiba, exatamente, quem são as pessoas que vão abrigar o adolescente. Faça contatos, ligue, investigue e, se possível, procure conversar com estudantes que já estiveram naquela casa. Com uma agência confiável, a viagem fica mais segura, mas não afasta totalmente o erro. Na ocasião do meu intercâmbio para os Estados Unidos, eu fiz com uma dessas empresas que está há muitos anos no mercado e, ainda assim, não tive sorte na primeira família, passei por situações constrangedoras e precisei mudar de casa.  Em compensação, na outra, acabamos tendo um grande vínculo, tanto que a minha mãe de lá veio ao Brasil nos visitar”, conta o estudante Otávio Jordão.     

Depois de passar por essa etapa, o próximo erro facilmente de ser encontrado é quando o estudante deixa o Brasil mas, surpresa, o Brasil não deixa a cabeça desse aluno. Aliás, não só o nosso país, mas as pessoas, as festas e apegos que ficaram por aqui. Um intercâmbio, para ser aproveitado integralmente, precisa ser, de fato, vivido. E isso implica, necessariamente, em restringir drasticamente o contato. Como?  A dica é escolher dois dias na semana para estabelecer a comunicação entre intercambista e família/amigos/ namorado(a). Aplicativos de conversa também entram na dança, a não ser que a conversa seja toda feita na língua que está sendo aprendida.

“Fiquei em Londres quatro meses e, durante o meu período de estudos naquele país, tinha uma amiga da Colômbia que falava até duas vezes por dia, pelo computador, com seu parceiro, inclusive fazendo contagem regressiva para a volta. Não tenho o direito de criticar, pois fazia parte da cultura daquela família, mas sinto que esse apego atrapalhou-a um pouco na fluência da língua. Se for pra sair de casa, do seu país e ficar contando os dias pra voltar, será que compensa o investimento?”, reflete a estudante Diná Toledo.     

Outro erro facilmente cometido, com as mesmas características do anterior, é viajar e continuar falando português no novo país. Independente do destino que se escolher, sempre haverá um grupo de brasileiros, ou alunos de países que falam português, frequentando os mesmos lugares que o estudante. Como agir nesses casos? Correr. Correr dos compatriotas e também da vontade inconsciente de tentar estabelecer uma zona de conforto. Lembre-se: deixe para falar português no Brasil. Lá fora, só a língua da pátria escolhida.  


Mas e o medo cabra da peste de falar errado e ver os outros rindo? Não é melhor só dizer algo quando há certeza de que a construção da frase sairá corretamente? Não. Simples assim. Durante o processo de aprendizagem de uma nova língua, erros são inevitáveis e, quando bem aproveitados, se tornam aliados. Erre. Erre muito e aprenda o dobro. Quem não fala, não pratica. Quem não pratica, não aprende.  Vá para as ruas, pergunta informações que já sabe só para treinar, procure conversar com nativos, mas não fique em casa e não permita que o medo trave sua língua e a língua.