Vinhos, companhias agradáveis e uma senhora caminhada até a Virgem

Daniel Arbartavicius

 

Hora de continuar a história do intercâmbio aqui na Argentina. Em uma ensolarada tarde de sol na UCASAL (Universidade Católica de Salta), eu estava triste, pois não havia encontrado ninguém conhecido. Sim, eu adoro conversar. Foi quando chegou uma mensagem no celular de uma amiga de intercâmbio. “Quer vir até o centro passear?”, perguntava ela. 

010-inter-foto-1-lhama-selfie

Minhas duas opções eram classe de Arquitetura de computadores ou aproveitar o resto de sol. Adivinhe o que escolhi? Fomos buscar um lugar que ela havia visto e que dizia ser lindo para comer algo. Algumas (muitas) voltas depois, encontramos. Para a minha surpresa o tal lugar era uma loja da Havanna, que como muitos sabem faz os melhores alfajores da Argentina. Ela decidiu tomar um Capuccino e eu tomei café, acompanhado de uma sobremesa de ricota com creme de frutas vermelhas. 

010-INTER-foto-2-paisagem-floresta

Vinho que chega na alma 

De lá ela comentou sobre um tal de Convento. Seguimos caminhando, agora na noite fria e logo chegamos. Era um lugar lindo. Pedimos uma garrafa de Carbenet Sauvignon  da Bodega La Huerta, que parecia ter alma. O cheiro tomava toda a taça e o gosto tomava conta do nosso paladar (melhor vinho até agora, hein?). Resultado? Conversamos das 18h às 23h daquele dia. Sobre tudo e sobre todos.  

Pensando na programação dos dias seguintes, eu havia feito o convite aos dois brasileiros (Felipe e Filipe) para subirmos um cerro que fica praticamente atrás de casa, que diziam que as pessoas tinham experiências espirituais. Isso me atraiu muito. Infelizmente não a eles e, quando o dia raiou, sabia que tinha que ir. Saí, comprei uma garrafa de água e um pacote de bolachas e só.

010-INTER-foto-3-cerro-trilha-caminho-argentina

As fitas do caminho 

Logo localizei uma trilha que adentrava ao cerro.  Quarenta minutos depois a certeza foi ficando para trás. Não havia ninguém na trilha e logo começavam as bifurcações. Notei que sempre havia uma fita amarrada nos galhos para indicar o caminho certo. Uma fita que ironicamente estava escrito perigo. Foi quando me deparei com dois cachorros grandes e começaram a latir para mim. Nessa hora vieram até mim duas senhorinhas chamando por eles. 

Elas deram dica que em aproximadamente dentro de cinco minutos eu deveria virar a esquerda e dentro de trinta minutos encontraria a Virgem. Bem....lá se foram mais de 1h30 de caminhada e nada de Virgem. Cheguei ao topo de cerro e nada de Virgem. Dalí ou eu voltaria para trás ou seguiria a trilha morro abaixo. Resolvi seguir e, a medida que foi descendo, comecei a ouvir um cântico. A trilha se dividiria de novo, ou iria para a direita ou para a esquerda. Comecei a ir para a esquerda e aquele cântico foi diminuindo. 

10-INTER-foto-4-arvores-paisagens

Erro na rota

Mas se se houvesse um lugar para encontrar a Virgem, teria que ser de onde vinha aquele cântico. Resolvi voltar, seguir pelo caminho à direita e foi que, de repente, sai em um grande estacionamento de carros e ônibus. Foi então que me dei conta que havia subido o cerro errado e que se eu quisesse ver a Virgem, teria que começar a subida de novo.  Estava cansado, não estava acostumado a caminhar tanto por trilhar tão difíceis e pior, só com um chá na barriga. 

010-INTER-foto-5-selfie-montanha 

Mas eu não poderia voltar sem vê-la, então vamos subir novamente. Eram mais sessenta  minutos Cerro acima em trilhas de pedras. O que mudou foi que agora via muita gente subindo. Jovens e idosos. Muita gente mesmo. Ao chegar ao topo me deparei com uma multidão em peregrinação. Dá-lhe mais duas horas na fila até ver a Virgem. Aquele estágio você já está em outro clima, tomado pela religiosidade coletiva ali presentes, o que torna o clima bastante especial. Havia gente emocionada na fila e tudo isso te faz se sentir imediatamente grato por chegar lá. 

Destino final

A medida que nos aproximávamos da capelinha, as árvores ficavam tomadas de terços, como se fizessem parte da própria árvore. Na minha vez de ver a Virgem, acabei não encontrando o que esperava. Não senti aquilo que buscava, o que não me impediu de agradecer por tudo que ocorrera em minha vida até aqui e o fato de ter alcançado ela. 

Desci de carona, pois o gás já havia acabado. Perto de casa, minhas pernas já não funcionavam mais. Travou. Só depois fui descobrir que naquele lugar uma senhora local, chamada Maria Lívia, havia avistado a Virgem Maria, em 1996. Naquela ocasião a Virgem deixou uma mensagem a ela e, desde então, multidões sobem a montanha para se encontrar com Maria Lívia e ver a Virgem.   

Em breve estarei de volta, para continuar compartilhando com vocês minhas experiências.