Os noivos do Salar

Bia Pegoraro

Olá, gente. Tudo bem? Eu sou a Bia Pegoraro, jornalista, 38 anos, moro em Mauá e no meu texto de estreia no Mochilaí vou contar a história de como me casei. Aliás, mais do que bonito, acho importante o casamento convencional. Eu mesma fui madrinha mais de duas vezes e confesso ter me emocionado muito em todas as cerimônias. Entretanto, nem sempre o que achamos encantador para os outros pode combinar com o nosso.

Roni e eu já morávamos juntos há mais de um ano quando decidimos trocar alianças. A ideia de fazer isso longe, ou melhor, muito longe, coincidiu com a realização de um sonho antigo: conhecer o deserto do Atacama. Mas a minha ideia era bem transgressora. Queria dormir em um trailer, no meio do deserto de sal, acordar, dar de cara com o vulcão Licancabur e viver à base de chá de coca. Não foi bem assim, mas posso garantir que, depois de tudo que vivi, ser noiva no Atacama demandou alguns cuidados – e fortes emoções.

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A começar, claro, pelos anúncios. E foi, em uma mesa de bar, que um casal de amigos disse “nós vamos testemunhar essa maluquice”. Hostel reservado, passagens compradas e vestido de noiva na mala, partimos para Santiago, onde começaria a nossa aventura. Depois de dois dias para conhecer a capital e andar pelas ruas charmosas repletas de bares e muito ceviche, viajamos para Calama, que é a cidade mais próxima do vilarejo de San Pedro do Atacama.

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Eu não fazia ideia do que viria pela frente. Meus contatos por e-mail com agências de passeios locais e com o próprio hostel que reservei foram todos muito insignificantes. Eu queria saber, nas minhas mensagens, se seria possível em um passeio, ou entre uma estrada e outra, descer da van, vestir uma grinalda e sair casando, assim, no meio do deserto. De certo, acharam que eu era uma brasileira louca, e que talvez nem marido tivesse para casar. Mal sabiam eles que, além do marido, ainda tinha um casal de padrinhos mais insanos do que a própria noiva.

Como na época da reserva dos quartos os meus amigos ainda não sabiam da viagem, eles acabaram se hospedando em outro lugar, mais afastado do centro de San Pedro. E foi, exatamente aí, que a nossa festa de casamento surgiu. Ao contrário dos demais serviços que encontrei pela internet nas minhas buscas pré-casamento, a Mari, proprietária do hostel Atacama Adventure, ao saber que meus amigos estavam lá para esse “evento”, ficou maluca! Sem saber de nada, muito menos se realmente a noiva era de verdade, logo ofereceu seu espaço. Com uma simpatia ímpar, ainda disse que faria um jantar chileno em comemoração ao nosso dia.

Saber disso logo que chegamos foi um dos melhores momentos da viagem. Estávamos livres para curtir todos os passeios, inclusive os que exigiram mais esforços dos nossos singelos pulmões e nos ajeitarmos com calma para a cerimônia. Ao longo dos passeios, eu percebia o quão seria complicado casar no meio das paisagens. Tudo lá é feito com turmas de 14 a 20 pessoas, e praticamente todos os lugares sem banheiro, sem estrutura; levar um vestido branco, por mais hippie que fosse parecer, seria inviável.

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Com isso, esperamos alguns dias para fazermos a cerimônia, o que, inclusive, nos favoreceu. Fizemos amigos, nos apaixonamos pelo lugar e nos sentimos em casa. Melhor cenário para trocar os votos de casamento, impossível.

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Tivemos tanta sorte em conhecer a Mari, que não tivemos dúvidas quando pensamos em como seria o momento da troca de alianças. Pedimos que toda a família dela e os nossos amigos fizessem os votos, num misto de religião, amor, respeito e felicidade mútua. Nós, por estarmos onde estávamos; eles, pela alegria de cederem um espaço do hostel e de suas próprias vidas a nós. Ao final da tarde do dia 24 de setembro, com o clima do deserto mais alto do mundo, celebramos nossa união ao lado do vulcão Licancabur. Tínhamos música, fogueira, ceviche, vinho e 19% de umidade relativa do ar.

Brincamos que conseguimos fazer tudo numa viagem só: celebramos a nossa união, comemoramos o aniversário do meu marido e curtimos a lua-de-mel. Tudo isso acompanhado de amigos e de vinhos chilenos a preços baixíssimos, vendidos em garrafas Tetra Pak de dois litros – o litrão de cerveja no Brasil não está com nada. Taí uma grande desculpa para comemorarmos as nossas bodas de algodão.  Até a próxima!

 

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