Filando a boia nos Hermanos

Bia Pegoraro

“O frio aumenta a fome”. Pode ser verdade – se bem que eu sou uma Magali de carteira assinada sem Reforma Trabalhista.  Meu apetite é de norte a sul, sem cerimônias. Até deveria, mas não consigo me unir aos que comem ervilhas com grelhado. Se você é da minha praia, vou compartilhar por aqui algumas experiências que tive nas minhas andanças.

Seja em SP, outros lugares do Brasile fora dele. Unindo a experiência do lugar, juntamente com a maravilha de meu Deus que é comer, vou dividir histórias que irão desde um lanche simples – com bastante maionese, fazfavô- até um menudegustação em matas escondidas por esse mundão.

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Já que o assunto começou com frio, vou logo avisando que é melhor separar seus trocados e passar rapidinho em um desses atacados para garantir algumas garrafas de vinhos. Nada de comprar em mercado normal.

Agora, se você dispõe de uma graninha e um tempo extra na agenda, não hesite em aproveitar uns dias emBuenos Aires. Pode ser um final de semana prolongado ou até mesmo um voo na sexta à noite, com volta programada para o domingo, se considerarmos voos das regiões sudeste ou sul. Acordar em pleno sábado, na capital argentina, para degustar um churros é coisa fina.

Digo um final de semana pois eu mesma fiquei apenas três dias em BA. E foram três dias para gastar a sola, beber e comer. Se puder, não peça um Uber ou táxi. Caminhe. As calçadas de BA cheiram doce de leite, bife de ancho e cabernet sauvignon.

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Meu bairro escolhido foi San Telmo.Aliás, essa opção foi também daquelas pessoas que não abrem mão de uma calçada boa para sentar e beber um chopp Quilmes - além de esbarrar em um casal dançando tango ao meio-dia, em pleno dia útil (coisa fina parte II). O bairro garante uma vida boêmia, com bares instalados em prédios do século passado, e com cardápios dignos de uma fome como a minha.

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Argentina é sinônimo de churrasco. Claro que um vegetariano sobrevive por lá, com risotos maravilhosos e massa com todos os queijos derretidos que a vida pode oferecer. Mas, neste texto, vou me ater ao bife de ancho. Acredito que tenha ido até lá para resolver essa pendência, inclusive.

Eu não me conformava quando as pessoas diziam que existia um bife, com três centímetros de espessura e que poderia facilmente ser cortado com uma colher. Minha peregrinação até o bife desejado foi rápida. Depois de algumas pesquisas no Google, encontrei o El Desnível. Para minha sorte e harmonia do casal, o restaurante ficava na rua que estávamos hospedados (Defensa, 855).

Com um ar de restaurante antigo, desses que a gente ia com o pai e a mãe de domingo para comer espeto misto e arroz à grega, o El Desnível surpreendeu. Mal sentei, e já fui pedindo o tal do bife de ancho. O que eu não contei aqui, é que não sei comer carne. Eu peço tudo, tudo mesmo, bem passado à sola da sapatilha velha. Fui terminantemente proibida de cometer esse crime. Nem ouse falar a palavra bem passado na Argentina. É caso de deportação.

Mas não me arrependi. Pelo contrário. É quase que um momento religioso. O garçom chega com aquele bife. Você olha pra ele – bife. Suculento e fácil de cortar. Chega a ser um desaforo. Se for no Desnível, peça a salada de tomate com palmito para acompanhar. Esqueça o arroz. Em Buenos Aires você não precisará disso.

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Depois, pensando em uma pequena digestão, caminhe tranquilamente até Puerto Maderoe conheça de perto o metro quadrado mais caro da Argentina. Tome um café ou coma um alfajor, tudo bem no estilo hermano de ser. Até a próxima.