Ano sabático: um caminho sem volta ao antigo eu
Guilherme Renso
Leia bem rápido. 1,2, 3... valendo. Acordar às 6h30 da manhã, tomar banho, fazer café, engolir alguma coisa goela abaixo e bora lá para mais um dia exaustivo de trabalho. Depois é só chegar em casa, geralmente após às 21h, jantar, ver meia hora de qualquer filme na TV, conversar um pouco com o parceiro (e/ou cachorro, gato, papagaio) e boa noite, até amanhã. Afinal, às 6h30 começa tudo de novo. Isso quando não há filhos também. Ufa! Mas, tudo isso faz sentido pra você?
Pois é. A gaúcha Laura Miguel achava que não. Depois que conseguiu passar na prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), os trabalhos só aumentaram. Mas, antes disso veio a Yoga (se pronuncia Yôga – Mochilaí é também cultura) e, enquanto ela fazia alguns movimentos com o corpo, mal sabia, estava prestes a mudar o movimento da sua vida, a partir de um período sabático.
A relação com essa prática começou quando ela estudava muito, mas não passava na prova da Ordem dos Advogados do Brasil. Então deixou as leituras um pouco de lado e começou concomitantemente ao trabalho, a se dedicar à prática. “Seis meses depois eu passei no exame da Ordem. A questão estava em mim, na ansiedade e nervosismo e eu sabia disso”, conta Laura.
Resumo da ópera? A vida se encarregou de colocar a então advogada para dar aula e cobrir o período que uma professora estaria viajando. Dali, até os três meses (só que não, né? A gente sempre quer ficar mais.) na Índia, foi um pulo, ou quase isso. A Yoga, em especial o método Ashtanga, não saiu mais da vida dela e a inquietação sobre se aquela rotina a fazia feliz foi ganhando cada vez mais força. Depois disso, ela e outros funcionários foram desligados do escritório. Mas, não. A decisão ainda não estava tomada. Então lá foi Laura, trabalhar em outro estado.
Aí sim. Partiu Índia. Quando o coração decide, não tem jeito. Pouco tempo em Santa Catarina e o martelo estava batido. Era a hora de pesquisar referências onde poderia estudar e se formar como docente dentro do método Ashtanga. Mas, ainda faltava correr com a papelada, fazer matrícula na Escola Kpjayi, vender o carro, conversar com os pais, comprar as passagens e fim. A Dra. Laura Miguel, advogada, termina aqui, no Aeroporto Salgado Filho. E ela sabia disso quando estava indo embora.
“Acabei ficando um ano. Precisava buscar algo e aquele período inicialmente planejado era insuficiente. Queria e fiz trabalhos voluntários no Nepal. Sempre gostei de ajudar. Dava aulas de inglês a refugiados tibetanos e tempos depois também ajudei a resgatar crianças em situações precárias em um orfanato. Eu não sei o que eu aprendi lá, pois parece que eu me redescobri dentro de um novo cenário e essa pessoa que eu me tornei, encontra prazer nas coisas que faz. Prazer em viver. Em acordar às 4h30 da manhã, mas com uma felicidade imensa em tudo isso”, conta Laura.
Na volta, uma nova mulher. As audiências foram trocadas por aulas, só que agora no seu espaço, onde coloca em prática todos os conhecimentos adquiridos na Índia e antes de ir para lá. Ou melhor, nos seus espaços: o Ashtanga Yoga Porto Alegre e a Casa Leela, também na capital do Rio Grande do Sul.
E qual o recado que ela gostaria de passar para quem não está feliz? Olha só. “Tem que parar. Tem que parar um tempo. A gente está aqui para evoluir. Fazer com que essa existência passe em vão é uma perda de vida. Mas, eu não posso parar pois senão fico sem dinheiro. Tem carro? Vende o carro. Tem casa? Vende a casa ou aluga. Precisa ter coragem. Precisa ter uma bela de uma coragem, que não é todo mundo que tem. E precisa desejar mudar. Precisa se dar conta que, naquele momento, a vida não tem sentido nenhum e que essa motivação precisa vir de dentro. Você, como ser, vai se admirar muito mais”, finaliza Laura.