Viva Nossa Senhora de Nazaré! Viva! Viva!

Guilherme Renso

São mais de dois milhões de pessoas que chegam de todos os cantos do estado do Pará e do Brasil, 800 metros de corda e 3,6 quilômetros, percorridos geralmente debaixo de um sol escaldante em quatro, cinco horas. Tudo isso, por um único motivo, composto por duas letras:. É a fé nela, em Nossa Senhora de Nazaré, que leva essa multidão, todo segundo domingo de outubro, à procissão do Círio de Nazaré.

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Pensando nisso, para entender todo essa egrégora, eu fiz a conexão com o Pará e bati um papo com o José Renan Freitas e o Matheus Freire, dois paraenses que  vivem, cada qual a sua forma, o Círio. Para começar, acho válido relembrar como começou essa tradição. O Renan me contou que tudo teve início em 1700, quando o caboclo Plácido, cansado de caminhar pelas matas em busca de caças,  parou em um igarapé para se refrescar. Depois de lavar o rosto, ergueu a cabeça e encontrou a imagem de uma santa.

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Santa de casa

Plácido então recolheu-a até sua residência, de onde a imagem desapareceu durante a madrugada. Intrigado, o caboclo refez o trajeto e encontrou o objeto no mesmo lugar do dia anterior.  Na terceira vez que isso se repetiu, ou seja, a imagem misteriosamente foi parar às margens do igarapé, o equivalente ao governador da época tomou conhecimento, mandou pegar a santa e levá-la ao Palácio do Governo. Lá ela passaria a noite. No entanto, assim que o sol raiou, as portas da sala onde o objeto foi deixado no dia anterior continuavam trancadas, mas não havia nada lá. Acertou quem disse que a imagem havia retornado para as margens do fluxo de água.

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Então, o Renan explicou esses sinais foram entendidos como um recado de que o desejo de Nossa Senhora era permanecer à beira do braço do rio, local para onde sempre voltava. Daí em diante, criou-se uma romaria, o culto à ela e uma pequena capela, que, após crescer tanto, tornou-se a Basílica de Nazaré

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“No segundo sábado de outubro, pela manhã, começa a Romaria Fluvial, que se encerra na Estação das Docas. De lá, tem início a moto romaria. A próxima fase do Círio é a transladação. A guirlanda com a imagem parte, ainda no sábado à noite, do Colégio Gentil Bittencourt e segue até a igreja da Sé. No domingo de manhã ocorre a maior das procissões, que é a saída da Sé, por voltas das 6h30 da manhã até a Basílica de Nazaré, refazendo assim o trajeto milagroso entre a casa do caboclo e o curso de água”, explicou Renan.  O paraense também me contou que a autorização do Vaticano para a realização do primeiro Círio em honra à Nossa Senhora de Nazaré veio em 1793, ou seja, 93 anos depois do achado. A primeira edição ocorreu em 8 de setembro daquele ano.   

Feliz Círio pra todo mundo!

Eu também apurei que essa celebração religiosa lá no Pará é visto como um Natal, ou seja, uma renovação de fé. “A gente enfeita a casa para receber Nossa Senhora. Além disso, os órgãos público, bem como as praças, ruas e parques, também são decorados.  No domingo, as famílias se reúnem para almoçar, celebram a fé, confraternizam e desejam Feliz Círio umas às outras”, relata Renan.

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“Mas se é como se fosse um Natal, eles assam peru?” Não. O Matheus explicou que a gastronomia, em especial nesse almoço, é bem típica do Pará. Então não faltam Maniçoba e o Pato no Tucupi. De sobremesa, sorvetes de sabores regionais são ótimas pedidas.  

A corda

Reparou que no início dessa conversa eu falei e vocês viram algumas imagens com uma corda? Pois é. Fazer o impossível para tentar encostar em alguns centímetros de seus 400 metros (a outra metade é usada no sábado), é uma prova de agradecimento por um grande milagre alcançado. Aliás, enquanto o trajeto no domingo é realizado, os fiéis, entoam a frase “Viva Nossa Senhora de Nazaré! Viva! Viva!”. Outro sentido dado à corda é de  cordão umbilical entre a mãe (berlinda com a imagem) e seus filhos. Por isso, levar um pedaço dela pra casa ao final daquelas atividades é como ter também um elemento de fé e esperança ali representado.  

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Por fim, o Matheus também me contou que esse elemento foi usado pela primeira vez em 1855. Vocês sabem que chove todo santo dia, ou melhor, tarde em Belém, certo? Então, naquela época, a caminhada era realizada no período vespertino, em ruas onde a guirlanda facilmente atolava. “Mais ou menos 30 anos depois daquela primeira ajuda de um comerciante português, a corda se incorporou às festividades”, explicou Matheus.

 

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